E a comida?

Viajar de bicicleta impõe uma forte limitação: o peso.  Espaço para colocar bugiganga a gente sempre arranja. Uma vez encontrei dois ciclistas chilenos na Rodoferroviária de Curitiba e a bagagem deles ficava da altura do ciclista montado. Ou seja, se os alforges forem pequenos, os bagageiros sempre permitem empoleirar qualquer coisa.

Porém, se o peso dessa tralha for muito grande então a viagem não acontece.

Pensar no que se vai levar de alimento não é tão fácil quanto parece. Passaremos por lugares distintos entre si, com cultura e disponibilidade alimentícia diferentes. Só para ter uma ideia, estamos indo para Argentina e lá quase não tem frutas! Para quem só morou no Brasil, é difícil de imaginar. Quando estive na Patagônia em 2006 durante um mês, o que mais senti falta foi de ouvir música e comer frutas cítricas. Nada de laranja, abacaxi, maracujá, manga, abacate (argh), goiaba, pitanga, mamão, e o pior de tudo, BANANA. Eles têm maçã, cereja, ameixa, pêssego, ciruela, e carne (!).

Pelo que experimentamos das outras viagens, macarrão funciona como base quando se pensa em fazer a própria comida. Em cima, colocamos tomate, cebola, alho, pimentão, aveia, peixe enlatado. De sobremesa, frutas e chá.

A praticidade e durabilidade são características óbvias. Daí os enlatados, há muito usados nas mais longínquas expedições e guerras da modernidade. Outros alimentos interessantes para viagens são as castanhas, as frutas secas e as sementes. Elas costumam aguentar bastante e servem para qualquer refeição.

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Pelo que parece até aqui, estamos indo para Lua e teremos que nos virar com aquilo que escolhermos em Curitiba. Claro que não será assim. Em muitas partes do trajeto teremos companhia de alguma cidade ou vila. Porém, haverá momentos, como a travessia de Puerto Deseado até San Juan, na patagônia argentina, em que – talvez – só conseguiremos abastecer-nos com água por 350km. Na época em que avaliamos esse percurso, calculamos que seria necessário, para os dois, 40 quilos de comida (não lembro se a água estava incluída).

Dito isso, surge minha velha crítica ao vegetarianismo (aqui entram os mais extremos, flexíveis e etcéteras): é impossível excluir produtos de origem animal fora das cidades grandes. Se a pessoa da cidade pode escolher o que quer comer, pois ali concentra-se uma grande variedade de alimentos que são trocados por dinheiro, já o produtor do campo terá que recorrer aos animais em períodos de entressafra, estiagens, e outras necessidades não alimentares (ainda mais se ele quiser ser um pouco independente). Particularmente, eu acho que alimentar-se de vegetais é fundamental, mais limpo e mais natural (tendo em vista a porcariada que dão para os animais), ao contrário de comer carne velha congelada.

Mas como se faz então numa pedalada?

Em nossa última viagem, por exemplo, colhemos goiabas e ganhamos bananas. Mas tivemos que comer tudo em meia hora, pois o calor e as batidas aumentavam muito a degradação das frutas.

Castanhas são caras pra caramba e não é qualquer lugar que tem.

Como estaremos o tempo todo no litoral, é muito provável que os peixes sejam os alimentos mais frescos e desintoxicados que encontraremos. Como trocá-los por qualquer outro produto de origem vegetal produzido a quilômetros de distância, provavelmente tratado com agrotóxicos e guardado em câmaras refrigeradas para retardar o amadurecimento?

Já nos sugeriram salame e queijo, que é uma dupla clássica de viagens pré-geladeira. Também indicaram uma receita maluca de farinha, açúcar, amendoim, castanhas e não lembro mais o quê. Outra amiga já foi mais direta: nesse ponto vocês terão que deixar a causa de lado.

A questão da comida é bastante difícil, ainda mais para mim que sou magrinho.

Sugestões serão muito bem vindas.

gil

2 Comentários

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2 Respostas para “E a comida?

  1. Ricardo

    Ae Gil,
    cara, acho que para uma viagem dessas vocês têm que cuidar da hidratação (não estou falando de isotônicos industrializados, água com sal serve =) ) e da ingestão de carboidratos.
    Acho que vocês deveriam levar o menos possível (entendo que o “menos possível” vai variar de trecho para trecho) e procurar adquirir alimentos a medida que vão viajando, planejando alguns dias a frente. Ingerir carboidratos de tubérculos e leguminosas (de preferência adquiridos nas cidades por onde vocês vão passar) me parece uma boa opção. Também podem levar alguma massa, como macarrão, já que dura bastante, sempre pode ser uma opção na falta de outras coisas e é fácil de se repor.
    Castanhas são boas para comer ao longo do dia pois tem uma resposta insulínica baixa, apesar do preço…
    Não acho que uma dieta vegetariana seja um problema no seu caso, já que não vai precisar de mais de 10% de proteína em sua dieta diária.
    Vocês também vão precisar de frutas e mesmo na Argentina, acredito que seja possível, é só questão de substituir adequadamente o que usamos aqui pelo que estiver disponível lá.
    Não sei se isso significa abandonar a causa, como você comentou, mas me parece razoável para uma viagem dessas.

    • gil

      Dae Ricardo,
      Preparamos um “salgadinho”, como diz a Luísa: castanha do pará, amêndoa, uva passa e amendoim, para ir comendo. A base será o macarrão e espero tomar bastante caldo de cana e água de coco. Isso já dá conta dos carboidratos e hidratação. Fora do Brasil a coisa vai ficar mais difícil, mas é isso mesmo, basicamente: água, sal, açúcar, cenoura, batata, aveia, amendoim, e as frutas que houver.
      E sobre a “causa”, isso foi um termo genérico para designar a possibilidade de escolha que a cidade permite em temros de alimentação. Na estrada, estaremos mais limitados, me parece, e teríamos que apelar para comidas “desagradáveis”. Mas veremos no caminho.
      Valeu pelas dicas e um abração.

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